Shinitiro Akashi, aos 76 anos, é um grande exemplo de jovialidade e vivacidade
O sorriso amplo denuncia: ali está um homem que mantém-se com o vigor da juventude. As palavras mansas soam firmes quando o assunto é sério. Ao descrever sua experiência como educador, tornam-se vigorosas e enfáticas. O interlocutor, imediatamente, vê-se alçado às imagens que a fala evoca, sentindo junto, imaginando junto, vivenciando junto, lado-a-lado. São sensações que passeiam pelo imaginário, e assim permanecem, perenes. Shinitiro Akashi é um educador ambiental por escolha. No alto de seus 76 anos, decidiu fazer do mundo um lugar melhor. “Eu busco ensinar que a saúde inicia-se da boa alimentação”, explica.
Ele é o responsável pelo projeto Horta, parte do Programa Ação Educativa Makiguti, da Coordenadoria Educacional da BSGI. Há mais de uma década, tem feito a diferença em diversas escolas por onde passou. As crianças por ele tocadas mudaram seus hábitos alimentares, bem como sua visão de mundo, graças ao abnegado trabalho deste septugenário.
“Onde já se viu uma menina de 8 anos exigir que eu compre alface!”, disse uma mãe exaltada assim que chegou à escola para visitar o Festival Cultural daquele ano. Trata-se de um momento em que a comunidade do entorno, une-se à comunidade escolar para conhecer e interagir conjuntamente. Shintiro Akashi foi responsável direto pelo comportamento tão peculiar da filha daquela senhora. Diante de tão inusitado e intempestiva explosão daquela mãe, a diretora da escola dirigiu-se a ela imediatamente. “Em primeiro lugar gostaria de parabenizá-la pela filha. Meus parabéns!”, cumprimentou. Tal postura desarmou totalmente a mãe. Imediatamente seu semblante amenizou-se. “A postura de sua filha”, continuou a educadora, “é um exemplo do êxito de nosso trabalho, cujo mérito é deste senhor”, ressaltou e apontou para Akashi.
Ao longo daquele ano, Shintiro foi o responsável pelo projeto Horta naquela escola, aquela mãe, ao ser apresentada ao idoso senhor, emudeceu. Com a calma e a serenidade que a vida lhe ensinou, explicou o motivo da mudança de comportamento da criança e de seus objetivos.
Akashi ingressou na Coordenadoria Educacional em janeiro de 2001. Antes era desenhista de projetos – profissão que exerceu durante toda vida. Aposentou-se e decidiu que dedicaria o resto de sua vida à educação. Para o projeto Horta, voltou às suas raízes da infância e adolescência e abraçou a nova atividade com vigor e total disposição. Sua experiência com a lavoura iniciou-se na tenra idade, aos 7 anos, ajudando os pais. Era o mais velho de oito irmãos.
Nascido em Bastos-SP, passou com a família por diversas cidades, plantando algodão e amendoim. “Durante 2 a 3 anos, as colheitas iam bem, mas aí a terra se esgotava e tínhamos que mudar de lugar”, explica. Em 1961 decidiu aventurar-se na capital, São Paulo, para mudar de vida. Formou-se em desenho de projetos com ênfase para projetos de soldas e usinagem. Foi com essa profissão que conseguiu estabelecer-se e constituir família.
Conheceu a BSGI em 1983 por intermédio da sogra e desde então nunca deixou de buscar o aprimoramento pessoal. Quando decidiu ingressar na Coordenadoria Educacional – majoritariamente composto por mulheres – foi movido pelo sentimento apreendido nas atividades da BSGI: a doação pessoal e o desejo de deixar um legado às futuras gerações. “Eu sempre acreditei na educação como a única forma de mudar esse país”, enfatiza. Suas habilidades manuais, aliadas ao conhecimento empírico adquirido na infância e adolescência foram cruciais para ajudar a desenvolver o Projeto Horta do Programa Ação Educativa Makiguti. Trata-se de uma prática pedagógica voltada à REVITALIZAÇÃO da EDUCAÇÃO focada no desenvolvimento do ilimitado potencial e competência dos alunos. Os voluntários do Programa têm fomentado e enriquecido as atividades diárias em sala de aula em dezenas de escolas por todo país. “É uma alegria quando estas pessoas chegam para o nosso encontro mensal”, comenta uma das professoras das escolas atendidas, “aprendemos coisas tão simples, mas que nunca havíamos nos atentado para a utilização em sala de aula”.
É dessa forma e com essa disposição que Akashi vêm desenvolvendo seu trabalho. Semanalmente ele visita as escolas em que atua – em média, três por vez – e orienta crianças do Ensino Infantil e Fundamental 1. Explica que cada um é responsável por aquele pedacinho de terra e que é preciso aguar todos os dias. Quando finalmente são colhidos os frutos de cada horta, boa parte é usada para reforçar a merenda e o restante são distribuídas aos alunos. “Na primeira colheita, quase a metade dos alunos nem toca na salada. Na segunda, metade desses experimenta. Na terceira, quase todos comem, e comem com gosto!”, exulta o educador ambiental.
São suas algumas das criações mais inovadoras do Programa Ação Educativa Makiguti. Preocupado com a dengue, ele criou um vasilhame utilizando garrafa PET.
A partir de uma técnica criada por ele, em um único plantio de alface orgânica, chegou a colher as folhas por sete vezes, mantendo as raízes e o núcleo da planta. Devido sua dedicação ele foi convidado a implantar o Projeto Horta em diversas cidades.
Já perdeu as contas de quantas crianças passaram por suas classes. “São tantas e com tantas expectativas! Cada criança que muda seu hábito alimentar e passa a desejar saladas é uma vitória individual!”, exulta Akashi. É com base nesse êxito que ele mantém-se cada dia mais ativo e criativo. E jovem.
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