Cultura de Paz

← Voltar

Arte, educação e filosofia budista

A busca por uma aproximação entre estas três áreas

 

Inquietações múltiplas levaram o ator, músico e professor Bruno Sciuto à academia, mais precisamente ao Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista – UNESP. “Neste trabalho tratei de escrever e analisar a história do núcleo de arte/educação do Programa Ação Educativa Makiguti, entendendo-o como parte integrante de minha própria história”, conta Bruno. Sua trajetória como pessoa foi profundamente marcada e alterada pela participação voluntária no Núcleo de Arte-Educação deste Programa, parte integrante da Coordenadoria Educacional da BSGI (http://www.bsgi.org.br/coordeducacional/)

Intitulada Filosofia budista, arte, educação e valor: a experiência do núcleo de arte/educação do Programa Ação Educativa Makiguti, sua dissertação de mestrado foi apresentada no final de agosto último à banca examinadora do Instituto de Artes da UNESP, e aprovada. Segundo a orientadora da dissertação, a professora e doutora Luiza Helena da Silva Christov, “a contribuição do trabalho do Bruno, abre novas perspectivas no campo da arte-educação e me deu uma imensa satisfação pessoal”.

Por meio de informações, documentos e memória de voluntários do Programa, Bruno produziu sua pesquisa. “Para o núcleo de arte/educação, a ligação entre filosofia budista, arte e educação, além de necessária, é indissolúvel de sua própria existência. Assim como para mim não é possível conceber uma educação, sem a criação de valores humanos, a despeito de reconhecer os mistérios envolvidos nessa difícil construção”, explica Bruno.

O pensamento de Edgar Morin ajudou-o a nortear sua pesquisa:

Um tal pensamento torna-se inevitavelmente, um pensamento do complexo, pois não basta inscrever todas as coisas ou acontecimentos em um “quadro” ou uma “perspectiva”. Trata-se de procurar sempre as relações e inter-retro-ações entre cada fenômeno e seu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como uma modificação local repercute sobre o todo e como uma modificação do todo repercute sobre as partes. Trata-se, ao mesmo tempo, de reconhecer a unidade dentro do diverso, o diverso dentro da unidade; de reconhecer, por exemplo, a unidade humana em meio às diversidades individuais e culturais, as diversidades individuais em meio à unidade humana.

O objetivo de sua dissertação: discutir, refletir sobre a história do núcleo e a interação do artista Bruno com ele; tentar responder às suas dúvidas e, quem sabe, criar muitas outras. “Analisei como a filosofia budista e a pedagogia do Programa Makiguti em Ação estão presentes em suas práticas pedagógicas e como a metodologia usada nas oficinas de arte/educação, dialogam com as principais tendências contemporâneas do ensino e da aprendizagem de arte”, enumera.

Tsunessaburo Makiguti

O professor e fundador da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, desenvolveu a pedagogia de criação de valores humanos, que hoje é chamada de Educação Soka, ou Educação Humanista que também tem influências da filosofia humanista do budismo de Nitiren Daishonin. Ele foi um educador japonês que, inconformado com os rumos da educação em seu país, decidiu criar uma entidade que se dedicasse à criação de uma nova pedagogia, baseada na felicidade do educando.

Makiguti publicou sua proposta pedagógica no Livro “Soka Kyoikugaku Taikei” (Sistema pedagógico para a criação de valores). Obra composta de quatro volumes e escrita entre os anos de 1930 a 1934. Fragmento do prefácio da obra ilustra o sentimento com que foi escrito: “É um conjunto de inúmeras lembranças, considerações e reflexões acumuladas no decurso de minhas funções diárias. Enquanto alguns colegas de profissão, mais mercenários, passavam os momentos livres meditando sobre preocupações financeiras, ocupei-me buscando idéias em minha própria experiência e anotando-as. Percebo agora, após 30 anos como educador, que colecionei uma montanha de papeizinhos, alguns devo admitir, pouco inspiradores, outros dos quais não poderia me desfazer”.

A espinha dorsal do sistema educacional de Makiguti é o conceito de “criação de valor”, segundo qual o aspecto mais louvável desta teoria é o compromisso de ajudar os alunos a explorarem e a desenvolverem seu potencial ao máximo. Esse tipo de educação, que tem como eixo o desenvolvimento de nossa natureza humana, é um empreendimento que determina a direção do futuro que ainda nem conseguimos visualizar.

Dessa forma ele concluiu que o Programa Ação Educativa Makiguti aposta na arte como meio privilegiado de comunicação, expressão e veiculação de valores e, por meio destes instrumentos, obtém resultados mais do que promissores. São verdadeiros êxitos plenos em termos de fazer pedagógico. Muitos outros autores compartilham da ideia do poder transformador da arte. Para o núcleo de arte/educação, a ligação entre filosofia budista, arte e educação, além de necessária, é indissolúvel de sua própria existência. “Assim como para mim não é possível conceber uma educação, sem a criação de valores humanos, a despeito de reconhecer os mistérios envolvidos nessa difícil construção”, finaliza Bruno.
Associação Brasil SGI

© Associação Brasil SGI - Todos os direitos reservados