Considerações do filósofo, humanista e advogado sobre o humanismo
Em suas quase sete décadas de vida, o filósofo, cientista social, teólogo, advogado, mestre em Letras e doutorando em Ciências Jurídicas, Luiz dos Santos Vieira Marques é um pensador incansável e um sólido e convicto humanista.
Nasceu na pequena Traipu, às margens do rio São Francisco, no estado de Alagoas. Formou-se em Filosofia (Licenciatura Plena); Teologia (graduação); Ciências Sociais (Especialização em Sociologia Urbana); Direito (Especialização em Direito Tributário – Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais na UMSA –Universidad Del Museo Social Argentino, em Buenos Aires)); Letras (Mestrado). Milita nas áreas do Direito cível e tributária, e presta serviços de consultoria jurídica à Câmara Municipal de Antônio Dias-MG. Dedica-se apaixonadamente a todas as suas atividades e considera-se um profissional vitorioso. Foi membro-fundador do Núcleo de Estudos da Religião da Coordenadoria Cultural da BSGI e hoje integra o Departamento de Bioética, da mesma Coordenadoria.
Há 23 anos ele abraçou o caminho da espiritualidade ao associar-se à BSGI. Foi a postura serena, tranqüila, compassiva e amável de Kikuko Inoue que o comoveu e convenceu o filósofo a conhecer mais sobre a filosofia humanística de Nitiren, sob a liderança do também filósofo Daisaku Ikeda.
Na entrevista a seguir, Vieira relata com paixão os caminhos que escolheu percorrer e dedicar sua vida.
Portal BSGI – Quando e por que associou-se à BSGI?
Luiz dos Santos Vieira Marques – O Humanismo de Daisaku Ikeda. Originário do Sutra de Lotus e apoiado na idéia de pensamento ampliado –pensamento que afasta as particularidades de origem para alcançar algo de ordem universal. O pensamento de Ikeda não tem fronteiras, transcende os estreitos limites da religião, da ideologia e da geografia. O Sutra de Lotus, interpretado por Nitiren Daishonin, revisitado por Tsunessaburo Makiguchi e Jossei Toda, é retomado por Daisaku Ikeda, não como doutrina abstrata, mas como base de sua profunda espiritualidade e, ao mesmo tempo, como método de análise concreta do real em suas diferentes determinações.
Em seus escritos, especialmente nas Propostas de Paz, Daisaku Ikeda, lança um olhar crítico sobre a realidade enquanto totalidade, desvenda suas contradições e propõe caminhos de superação da profunda crise em que se encontra mergulhada a sociedade contemporânea. Ele é um dos grandes profetas do século XX. Assim como Ganghi, Luther King, Helder Câmara, João XXIII e Alceu Amoroso Lima.
Um profeta é aquele que denuncia, ou seja, mostra que o mundo não vai bem, não funciona adequadamente e que seus fundamentos devem ser repensados e reajustados; anuncia, quando orienta que se tenha confiança no potencial humano para transformar o mundo e, entre a denúncia e anúncio, interpõe a conversão, que Ikeda chama de revolução humana.
PB – Fale um pouco sobre o que pensa sobre o conceito de Cultura de Paz:
LV – Eu me alinho à visão daqueles que, como o grande pensador e humanista Alceu Amoroso Lima definem a Paz como "a confirmação do amor à vida e de que ela vale a pena ser vivida em paz." Que entendem o viver em paz como "um estado de vida que confirma o nosso inato amor à vida, como um bem e mesmo como um bem supremo, que distingue no sentido da perfeição os seres vivos dos seres inanimados. Compreendendo a paz como a confirmação do amor à vida, volto-me para a realidade em que vivemos, e constato que essa paz, tão bela, profunda e necessária a todos os seres vivos, é algo imaginável, uma utopia possível.
Segundo Heráclito, "a luta é a regra do mundo e a guerra, a genitora comum e a dona de todas as coisas". Hobbes, por sua vez, afirmava que o homem, em sua condição natural é um lobo para o homem. Darwin constatava ser o struggle for life, o motor da evolução.
Para o dr. Ikeda: "As forças contraditórias que dividem o coração humano são as maiores fontes das crises que põem em risco a humanidade e todas as formas de vida, seja a situação do meio ambiente da terra seja das armas nucleares e convencionais de destruição em massa. Acreditando que a contradição é um mal inerente e a unidade é o bem, venho argumentando com persistência que podemos evitar que as tragédias da história humana se repitam no século XXI desde que direcionemos o poder do bem para diminuir as forças adversas. Esta é a minha determinação férrea."
PB E de que forma o senhor aplica estes conceitos em sua vida?
LV – Na construção da minha revolução humana. Entendo esta como um processo de desconstrução do ego, que passa, necessariamente, pelo empenho em viver o momento presente o mais profundamente possível; estar em contato com a comunidade (BSGI), constituída por aqueles que buscam viver o mesmo ideal, aprendendo com o olhar, com o levantar-se, com o andar, com o falar ou o sorrir de cada pessoa; ter consciência de que a minha existência não se dá em uma pequena escala do mundo, ela é vasta e expande-se a todos os seres. É manifestação total. E, por isso, não posso viver cuidando apenas de mim mesmo, dos meus interesses pessoais, ignorando os outros. Como ser humano, tenho de cuidar de mim mesmo e, ao mesmo tempo, dispensar a ternura e o cuidado a todos os seres sencientes. Ter consciência, viver em serenidade e tranquilidade, sentir o gosto da impermanência. Este é o significado da compaixão de um humanista.
A paz não é uma questão política. O acesso à paz requer um compromisso muito forte, duradouro e espiritual, um juramento de cada um. A paz tem que ser encontrada em mim mesmo. Por isso, ao eleger esse caminho de espiritualidade como base de minha vida dária, assumi o compromisso de permanecer em paz. Imaginar a paz, portanto não é uma atitude mental. É experimentá-la no seu interior e externá-la na suas relações de convivência com todos os seres. Somente estando em paz pode-se imaginar a paz e torná-la possível.
PB – O que representa em sua vida, os ideais humanistas de Daisaku Ikeda?
LV – Os ideais de Daisaku Ikeda, para mim, constituem-se em uma forma das mais atualizadas de humanismo. Considero-o, por isso, como meu Mestre da vida. Dessa forma procuro segui-lo, com liberdade, senso crítico, despojando-me de qualquer forma prejudicial de sentimentalismo fácil, sem idolatria ou sem cair nas armadilhas do culto à personalidade, mas exercitando a experiência da relação mestre-discípulo na perspectiva do Sutra de Lótus, portanto, muito além dos limites das estruturas de poder, inerentes às organizações e mais distante ainda dos impulsos emocionais.
Tanto a compaixão como a ideia de pensamento ampliado, encontram-se presentes no humanismo propagado pela BSGI, traduzem-se na dedicação do Mestre ao mundo, na renúncia de suas particularidades de origem, sinalizando para a perspectiva da universalidade. Neste sentido, Ikeda, em seus escritos, visita grandes pensadores de todos as partes do mundo, de todos os credos, ideologias, partidos políticos, regimes econômicos ou modelos civilizatórios Transcende o pensamento religioso, a diversidade filosófica ou antropológica, ultrapassa todos os limites na perspectiva da unidade e da Paz. A Paz é um horizonte aberto.
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