Cultura de Paz

← Voltar

Reminiscências do holocausto nuclear

Mitsuko Ikebe é associada da BSGI e nasceu um mês depois da bomba da Hiroshima

“Jamais devemos permitir o uso de armas nucleares!”, brada a imigrante japonesa Mitsuko Ikebe de 66 anos. Ela nasceu em Hiroshima, em setembro de 1945, um mês após a bomba atômica ser detonada em sua cidade natal. Suas recordações de infância ainda são vívidas na memória e as histórias que ouviu são a prova irrefutável do horror e da catástrofe vivenciada pelas vítimas do maior holocausto nuclear que a humanidade já presenciou.

Seu pai, Seiitsu Imagawa, era soldado e tinha 27 anos no dia da bomba. Ele lhe contou que encontrava-se há três quilômetros do epicentro, próximo de um bonde, quando ouviu a sirene avisando sobre a aproximação de aviões americanos. “Corri ao quartel para avisar os demais para que se refugiassem. Ouvi o ronco do avião e então houve um estrondo ensurdecedor. Pensamos que haveria mais bombas, mas não imaginávamos que seria uma única”, relata Seiitsu.

O jovem soldado sentiu um calor insuportável a seguir e atirou-se em um tanque d’água. Ao colocar a cabeça para fora, mesmo encharcado, percebeu o colarinho de sua farda pegar fogo. O rosto ficou em chamas e teve queimaduras gravíssimas na face. “Olhei em volta e a cidade toda estava destruída. Perto de 90% dos prédios havia desaparecido”, conta.

O que ele viu naquele momento nem se compara ao que ainda assistiria. Legiões de cadáveres ambulantes vagando e gemendo, pedindo água e ajuda. Ele mesmo não compreende como sobreviveu.

Mitsuko conta que a tia era estudante e a escola em que estava desabou. Quando conseguiu sair, viu os colegas muito feridos andando para o rio e desfalecer, a maior parte nem conseguiu ingerir água. Eram dezenas de corpos de meninas de 15, 17 anos, parcialmente carbonizados enfileirados à beira do rio.

Durante sua infância e juventude, Mitsuko teve muito medo que seu organismo desenvolvesse seqüelas da radiação. Sua mãe estava grávida de oito meses quando a bomba foi jogada sobre Hiroshima e a probabilidade de seus genes serem afetados era imensa. “Chorei muitas vezes pensando nessa possibilidade”, conta Mitsuko.

Aos 12 anos conheceu a Soka Gakkai por meio de seu avô materno. Ele contou à sua mãe sobre a filosofia humanística do Budismo Nitiren. “Começamos a estudar e a praticar a filosofia. Percebemos que nossas vidas começaram a mudar para melhor”, explica. “Havia alegria nas reuniões da Soka Gakkai e muita energia. Nós percebemos que a filosofia mudaria a nossa vida”, enfatiza.

Quando a família decidiu imigrar para o Brasil, o avô incentivou-os, dizendo que iriam para o “país da esperança” e, portanto, deveriam levar o maior tesouro do universo, a filosofia humanística do Budismo Nitiren.

Já embarcados no navio, descobriram outras 10 famílias também associadas da Soka Gakkai. Juntos, todos os dias, realizavam encontros onde liam os escritos filosóficos de Nitiren, em conjunto.

Neste mesmo navio, a jovem Mitsuko encontrou também seu par. Aos 14 anos, a menina imaginava um mundo de possibilidades durante a longa viagem e, foi em meio a esses devaneios conheceu o futuro marido Hatao Ikebe. Durante a viagem estreitaram relações e a amizade se tornou paixão. Foi dolorosa a despedida no porto de Santos, mas apaixonados, trocaram endereços e prometeram corresponder-se. A família de Mitsuko estava destinada para São Paulo e a de Hatao, para o Paraná.

A intensa troca de cartas entre os dois fez a distância entre os estados diminuir e, nessas correspondências, a jovem Mitsuko falou da filosofia humanística a seu amado. Sua sinceridade era tamanha que o jovem Hatao decidiu também associar-se. “Casamos em São Paulo. Temos três filhos e três netos maravilhosos!”, emociona-se.

Ela conta que mesmo sendo hibakusha (termo criado após a bomba para designar os sobreviventes e seus descendentes de Hiroshima e Nagasaki), desde que conheceu a filosofia humanística do Budismo Nitiren, nunca se sentiu discriminada. “Dentro da BSGI eu sempre fui vista com normalidade, nunca senti discriminação”, relata. Os hibakusha no Japão são estigmatizados por seu possível legado “atômico”, devido às seqüelas genéticas da radiação. Porém, estas nunca se manifestaram em Mitsuko. Ela tem certeza de que a dedicação à propagação da filosofia do Budismo Nitiren a manteve imune.

Mitsuko e a família possuem uma grande e promissora loja de artefatos para pesca no bairro da Liberdade há 35 anos. Todos – ela, o marido e os filhos – trabalham juntos em harmonia. “Meu maior objetivo hoje é continuar a colaborar para a expansão da BSGI e corresponder aos anseios de meu mestre, o dr. Daisaku Ikeda, para que o mundo finalmente dê um fim às armas nucleares que tanto mal causaram ao mundo”, finaliza a guerreira Mitsuko.

Associação Brasil SGI

© Associação Brasil SGI - Todos os direitos reservados