Cultura de Paz

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Visões de humanidade

Há momentos difíceis na vida.Grandes ou pequenas, as dificuldades podem ser decisivas. Somente a firme determinação de enfrentar as adversidades leva o indivíduo a vencê-las verdadeiramente. Nessas horas cruciais, jamais hesite o mínimo. Daisaku Ikeda

Uma gota cristalina desce pela face serena. Os profundos olhos azuis transmitem a paz e a humildade de quem superou suas limitações e hoje convive tranquilamente com sua plenitude. Rosana Aparecida Mautone é educadora. Isso basta para descreve-la, pois atua efetiva e competentemente na área pedagógica há mais de três décadas. Só isso já seria um grande feito, não fosse um detalhe: Rosana é cega. Ou quase. Rosana enxerga vultos. “Nunca me senti diferente, ou nunca me permiti sentir diferente”, conta.

Uma passagem do romance Revolução Humana, do filósofo, humanista e presidente da SGI, dr. Daisaku Ikeda, lhe valeu o ensinamento que mantém como um tesouro. Nessa passagem uma jovem deficiente física perguntava o que ela podia fazer já que possuia essa limitação motora. “Não pergunte o que você não consegue realizar, mas o que você pode fazer em prol da humanidade, não há outro modo de viver”, foi a resposta recebida. Aquelas palavras tocaram o coração da jovem Rosana e sua decisão foi devotar sua vida à promoção do Humanismo da SGI e assim, construir uma cultura de paz por meio da educação.

Aos 14 anos conheceu a BSGI, junto com a mãe e associou-se. “Senti que não havia discriminação nas reuniões e encontros”, explica a opção. Percebeu que era mais que simplesmente explanações teóricas e filosóficas, existia humanismo vivo e pulsante em todos os lugares. O desejo de realmente difundir uma cultura de paz a partir da transformação de vida de cada um foi o que a encantou. “As pessoas eram sinceras e honestas comigo. Me diziam que eu era capaz e isso me fez acreditar”, completa.

No grupo Cerejeira, do Núcleo Feminino de Jovens, foi onde compreendeu sua vocação: ser útil. O grupo atua nos bastidores das atividades, oferecendo apoio logístico, recepção, organização e proteção. “Aprendi a planejar, organizar e ser disciplinada. O grupo me forjou a ser quem sou hoje”, enfatiza. Sem dar chance à sua aparente limitação, decidiu participar dos festivais. Foi coralista em 1982 e em 1984; atuou como membro do grupo Cerejeira em 1988 e em 1990 decidiu ousar: inscreveu-se na dança. “Como haviam muitos inscritos fomos sendo realocados para os demais setores. Eu queria superar-me e foi no Painel que isso aconteceu!”, conta entusiasmada. O Painel Humano da BSGI é um dos mais impressionantes setores dos festivais. Trata-se de uma gigantesca tela de imagens formada por milhares de pessoas que manuseiam grandes quadros coloridos de isopor, cada pessoa tem um jogo de quadros, um de cada cor. Os desenhos se formam a partir do comando visual central em que cada integrante, munido de um gabarito com a ordem das cores, troca seu quadro para que a imagem seja formada. É um imenso quebra-cabeças formado por cerca de 3 mil pessoas. “Eu criei um padrão, memorizando a ordem. Nos ensaios os colegas me ajudavam e eu fui decorando”, conta emocionada.

Decidida a se tornar educadora, cursou a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – USP, com habilitação em deficientes visuais. Especializou-se também lá em educação especial. A primeira escola em que lecionou situava-se nos confins da zona sul de São Paulo. “Acordava às 4h da manhã para chegar às 7h, horário do início das aulas. Depois, saia às 12h e só chegava em casa às 15h. Era muito sacrificante...”, conta.

Porém, sua determinação era muito maior. Decidida a transformar sua vida, empenhou-se e em um ano estava em uma escola um pouco mais próxima de sua casa. “Eu nunca fui de ficar quieta. Acho que graças ao treinamento que tive na BSGI, aprendi a me impor. As diretoras não concordavam com o que eu propunha e por isso decidi prestar o concurso para direção!”, exclama.

Foi aí que sua vida deu uma guinada. Aprovada no concurso da prefeitura foi assumir o cargo de diretora e uma das primeiras providências que fez foi incluir na escola projetos de educação inclusiva. “Não havia atendimento especializado a portadores de deficiência, então busquei introduzir aos poucos”, conta.

Rosana orgulha-se de, em todas as escolas onde passou pela direção, ter incluído programas de apoio a crianças com deficiência. Além disso, como membro atuante da Coordenadoria Educacional da BSGI, vem implantando os projetos e programas desta coordenadoria. “O programa Ação Educativa Makiguti foi realizado em todas as escolas em que atuei”, ressalta com indisfarçável orgulho. É voluntária no projeto de Alfabetização em 40 horas também da Coordenadoria Educacional e pretende até o final do ano, implantar a sala Magia da Leitura, projeto que visa despertar e incentivar o prazer de ler a crianças, jovens e adultos.

Homenagem inesperada

Em abril deste ano, Rosana foi agraciada com uma homenagem outorgada pela Associação Heráldica e Humanística, entidade reconhecida pelo governo federal que presta homenagens a pessoas de reconhecida atuação em prol da sociedade. “Eu recebi o telefonema dessa ONG e não entendi nada. Fui à internet – Rosana tem um programa que lê as páginas da net – e vi que era uma instituição idônea”, conta. A instituição chegou até Rosana por indicações das entidades de classe e Secretarias de Educação de Estado e do Município. Um justo reconhecimento pelo seu empenho, garra e competência exemplares.

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